quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Detergente de Tangerina

Assisti o filme Pachamama e rapidamente ele se tornou minha animação favorita. Os povos andinos tinham uma visão muito bonita da Terra. Para eles a Terra, a Natureza era como uma grande mãe que gerava a vida e a alimentava. Eles agradeciam pela colheita farta destinando os melhores alimentos para um buraco no chão. Em troca, receberiam no ano seguinte mais fartura. Me lembrou minha composteira doméstica, onde coloco cascas para receber adubo em troca.
Em verdade, fico maravilhada toda vez que penso que me encontro em um minúsculo grão de areia dentre esse vasto universo. Que é o único lugar em que sabemos ser possível a vida. Isso graças a uma distância exata do sol que permite temperaturas propícias à água em estado líquido e uma densidade exata para gerar a força gravidade suficiente para uma fina camada de ar - a atmosfera. E porquê? Qual o sentido disso, da vida?
São tantos fatores que poderiam dar errado e que precisam estar certos para que ela seja possível. E aqui estamos. O planeta todo é como um ser vivo. Lembro de Al Gore falando em seu documentário que quando era verão no hemisfério norte mais plantas brotavam e sequestravam o carbono diminuindo a quantidade do gás na atmosfera. No inverno, o gelo cobria o chão e os níveis voltavam a subir. Então esse sobe e desce era quase como se o planeta todo respirasse.
De fato, não há "fora" em um círculo. E é isso que o Sistema Vivo Terra é: um círculo interminável de relações em que nada se cria ou destrói, tudo se transforma.
Hoje estou viva e isso só é possível porque tenho o ar para respirar, a água para matar minha sede, o sol para me esquentar, o alimento dado de bom grado pelo solo para matar minha fome. E é claro, tive minha mãe para manifestar a energia criadora feminina presente em todo nosso planeta, dentro de seu útero. Ar, água, solo e mãe. Tudo que é preciso para se ter vida.
Atualmente, me sinto incomodada com o distanciamento que temos da nossa relação com nossa casa. Somos parte de um organismo e mesmo assim não praticamos esse pertencimento. Pessoas passam mais tempo pensando em internet, números, dinheiro, do que no alimento, na luz do sol, no ritmo da Natureza.
Eu mesma cresci uma pessoa totalmente desconectada da Natureza. Não sabia as fases da lua e sua influência nos mares, em mim e nas plantas. Não sabia as estações e as mudanças advindas com elas no ambiente que me cerca. Não sabia quando era a época das minhas frutas favoritas. Não sabia nem de onde vinha o que eu comia e para onde ia o que eu descartava. Somos criados assim. Nos tornamos muito obcecados com nós mesmos. Parecemos muito perdidos dentro dos problemas humanos para nos enxergarmos como terráqueos, companheiros de planeta das plantas e outros animais.
Já evolui muito. Dispenso plásticos descartáveis, evito comprar industrializados, opto por produtos in natura e orgânicos. Composto meu lixo orgânico. Tenho uma horta em casa (ou tinha, como vocês sabem). Uso fraldas e absorventes de pano. Parei de consumir diversos cosméticos e produtos de limpeza, embora ainda use alguns.
Entretanto, ainda não produzo meus próprios produtos de limpeza em casa, não me trato com plantas medicinais, sou muito viciada em tecnologia e redes sociais Tenho escapadas nas quais consumo comidas junk e de procedência nada sustentável. Não separo meu lixo reciclável.
Acredito que não consigo realizar as mudanças que sei serem necessárias para mim e para o planeta devido ao sentimento de autopiedade, cansaço físico e emocional da maternidade e uma melancolia que as vezes toma conta do meu coração. É claro que tudo isso só piora porque me sinto culpada por não fazer o que é preciso. Além disso, sinto que estou remando contra a maré não só em geral, mas no específico também, com cada membro da minha família não alinhado com meus ideais. Claro que Marcello aceitou de boa diversas das mudanças, mas ainda sinto que preciso guiar ele nesse processo.
Acredito que o meu EU 100% comprometido com a Natureza seria também conectado com os saberes ancestrais de cultivo de plantas alimentícias e medicinais (plantando o que consumo); culinária integral (realizando todos os processos em casa, sem consumir industrializados) e sem desperdício; e manejo de resíduos. Meu objetivo é ter autonomia da indústria. Poder produzir em casa quase tudo que fosse necessário para manutenção da minha vida. Depender apenas da Mãe Natureza.
Gostaria de ver cada espaço disponível na cidade tomado por hortas e canteiros que pudessem alimentar quem precisa. Gostaria de reduzir o impacto negativo que temos na Terra. Gostaria de transmitir a todos essa nova possibilidade de estilo de vida ecológico. Estamos todos conectados na Terra: mesmo ar, mesmo solo e mesmo sangue. Aquilo que dói em mim, dói no outro também e vice-versa. Não há individualidade em um sistema, um círculo vivo. Entretanto, minha falta de confiança em mim mesma e auto-sabotagem me impedem de prosperar nesses objetivos.
Uma forma de me comprometer para tornar meu relacionamento com a Natureza uma prioridade seria parar de me comparar com os outros, ter mais fé e compreensão para comigo mesma, respeitar meus processos e valorizar meus atributos. Desconectar das redes sociais e me conectar às redes naturais e humanas vai me dar muito tempo livre que penso não possuir e isso vai me possibilitar priorizar Pachamama. Afinal, sou também o exemplo no qual meu filho se espelhará.
Diariamente eu me digo que "amanhã eu começo" ou "só dessa vez". Acontece que se sua casa está pegando fogo você não fala que vai relaxar no sofá só uns segundos e amanhã você sai. Você se desespera e sai correndo para fazer tudo que for necessário pra salvar seu lar, sua família. É esse sentimento de desespero e de urgência que preciso ter em relação ao meio ambiente.
Ontem comecei o primeiro módulo do curso "Casa, Casa, Manual" e essa reflexão foi provocada por ele.
Agora uma das receitas com a qual consigo: produzir meu próprio detergente, direcionar para um fim útil os resíduos da tangerina e fazer uma limpeza natural da louça boa para mim e para o planeta, pois não polui o meio ambiente.

Detergente de casca de tangerina (Neide Rigo )

Ingredientes:
Cascas de tangerina
Água
Modo de fazer:
Bata as cascas com o mínimo de água possível no liquidificador e está pronto. Consuma em até trÊs dias. Como estamos no inverno frio de SP, eu pude deixar fora da geladeira sem prejuizos.

9. Que desculpas você se dá diariamente? Como você pode deixar de fazer isso? 

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