quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Retorno ou "escreva, Vitoria, escreva"

Quase cinco anos depois, retorno ao projeto "torta por linhas retas".
Em 2014, eu era uma menina de dezesseis anos. Eu estudava ainda, no Bandeirantes. Militava em um movimento de juventude de esquerda, no qual concentrava grande parte da minha energia. Gostava de sair com gente mais velha, conversar sobre coisas importantes e beber cerveja em boteco. Tinha bastante tempo livre e sentia como se todos os meus amigos fossem artistas: atuavam, cantavam, dançavam. Eu mesma já me aventurei em tudo isso, papo para outra hora. Mas sempre gostei de me expressar artisticamente e via na escrita uma boa maneira de colocar para fora tudo aquilo confuso demais para ser pensado claramente. Como se pudesse desenrolar um emaranhado de pensamentos como no filme do garoto bruxo, mas numa folha de papel. Tenho diversos cadernos dessa época, com desenhos e textos. Além disso, a militância me deu um outro objetivo para isso tudo: devia trazer a voz do lado oprimido, da luta, da revolução. Mesmo nunca estando de fato satisfeita com meus trabalhos, admito que era gostoso poder se dedicar a uma obra, um texto. Pensar nele, mudar detalhes, se esforçar para ficar do jeito que eu quero.
Muita coisa aconteceu desde então. Não quero me limitar a narrar os fatos em ordem cronológica, embora seja o que eu estou condicionada a fazer. Entrei na faculdade, mudei de cidade e sem muito remorso abandonei tudo que eu havia deixado aqui. Fiz novos amigos, um novo lar. Me apaixonei. Adotei para minha família cães, crianças e plantas. E de repente, me vi na maior aventura que já vivi. Estava grávida. Meu corpo e minha relação foram capazes de gerar a vida. Um pequeno feijãozinho de 7mm que vivia dentro de mim. Os dias passavam e nada mais parecia importante. Só arrumar o ninho e me preparar para a chegada dele. Queria ler tudo sobre maternidade, parto, amamentação. Minha vida girava em torno disso. Mudei de cidade de novo. Reencontrei minhas raízes e me vi muito diferente da garota que havia saído daqui.
Durante o fim da minha gestação e trabalho de parto, tive que dar adeus a muita coisa. Aquela necessidade de agradar, acatar, obedecer, ouvir... Foi expulsa de mim. Eu sou uma mulher forte. Eu conheço meu corpo e a vida que ele gerou. Eu sei o que preciso e sei o que eu quero. Eu sou capaz. Eu sou. Eu.
Dar a luz a Rudá foi a experiência mais importante da minha vida. Eu e ele estávamos prontos para aquilo e seriamos capazes de conduzir toda a experiência de maneira perfeita. É incrível porque eu só aprendi que era capaz depois de fazer.
A minha cria estava aqui fora... eu namorei e namoro muito a minha maior peça de arte. Cada detalhe dele é perfeito, feito por e para mim. Nós temos uma conexão incrível. Um olhar é capaz de dizer mais de mil palavras. Amo ele como nunca poderia imaginar amar. É maravilhoso a forma que ressignifico a vida, aprendendo a cada dia com suas descobertas e evolução. Emocionante, para dizer o mínimo e com muita intenção.
Tendo dito isso, a maternidade é a face mais cruel e escancarada do machismo. A forma como ela nos é imposta e ao mesmo tempo nos condena. Realmente, em nossa sociedade capitalista atual é impossível vivenciar de maneira positiva e completa toda a experiencia.
Ao ter um filho nosso ritmo muda, amamentar exclusivamente significa seguir o tempo da criança. Amamentar de hora em hora ou por horas seguidas. Não dá mais para trabalhar, estudar e ficar o dia todo na rua, sem comer direito. Não dá para decidir e sair em 15min. Não dá para virar noite estudando/trabalhando, se sua cria precisa de você. Não dá para acordar e correr 30min e fazer suco verde, porque tem banho, remédio e teta para dar à cria.
Só que nossa sociedade quer essa mesma mãe que (escolheu e tem que aguentar sic) deve estar disponível inteiramente para seu filho e seguir diversas regras (que mudam com a moda), esteja magra, arrumada, produzindo e sem reclamar. É humanamente impossível. Não dá para agradar a todos.
Por isso, tenho buscado uma forma mais natural e simples de ser mãe, bem instintiva na verdade, fazer o que me faz sentido. O que não significa que estou imune a críticas, palpites e até broncas. D minha mãe, tia, prima, irmã, sim, e até de desconhecidos na rua. Sim, quando você vira mãe aparece uma placa enorme na sua cabeça escrito "críticas e sugestões aqui". Porque todo mundo acha que sabe mais ou melhor que você.
Falei, falei e não falei o que vou fazer desse blog. E o bebê que dormia do meu lado acordou chorando.
Mas percebam: farei isso mesmo aqui. Escreverei sobre o que der na telha, quando der na telha, quando der na telha, ops, conforme possível visto que sou mãe. Deixa eu ir, beijo!

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