Eu quero muito deitar na grama
Fechar meus olhos e me afundar
Em mim mesma e em todo meu drama
Sem ter que ter hora para voltar
Voltar para essa cidade escura
Para as paredes friamente cruas
E às pessoas, igualmente duras
Trazendo consigo as tristezas tuas
Me afastar do que é conhecido
Daquele chamado ninho
O tempo lá passa sofrido:
Cada segundo, bem devagarinho
Na grama verde e molhada
Eu me tornaria mais feliz
Minha pele seria toda trançada
Com ramos vindos da mesma raiz
Com o tempo, das sardas minhas
Brotariam flores delicadas
Fantasmas das ervas daninhas
Em minh'alma incrustadas
Só aí estaria eu livre de qualquer
Mal que ele pode me infligir
Ele que tanto me quer
Não percebeu: só consegue me ferir
Pois quem fere a abelha amarela
Não percebe que fere também
A flor de que gosta, uma vez que ela
Depende da abelha pra viver bem
Ele que feriu minha abelha querida
Tentando chegar a mim
Abriu em mim dolorosa ferida
Da qual ainda não achei o fim
Eu quero muito deitar na grama
Virar de novo a flor que eu era
Encontrar a abelha que me chama
E me livrar dessa fera
Nenhum comentário:
Postar um comentário